segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Entre o saber tradicional e o acadêmico

*Publicado na página Responsabilidade Social, no jornal O LIBERAL de 21/01/2016

BRENDA PANTOJA
Da Redação

A Reserva Extrativista Marinha (Resex) de São João da Ponta, município paraense que fica a 130 km da capital, abrange uma área de 3.400 hectares e as principais atividades econômicas das comunidades são a extração do caranguejo e a pesca. Para as cerca de 400 famílias que tiram de lá o seu sustento, é fundamental conhecer bem o ciclo da maré, pois é ela que dita a rotina. Foi daí que surgiu o nome do projeto “Maré Solidária”, desenvolvido na região pela Universidade da Amazônia (Unama) como uma forma de abrir as fronteiras entre o saber tradicional e o meio acadêmico. 
A iniciativa foi lançada em outubro e conta com a parceria da Associação dos Usuários da Resex (Mocajuim) e do programa “Jovem Protagonista, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). O objetivo é promover a responsabilidade socioambiental, trabalhando para capacitar e ampliar o conhecimento dos moradores da reserva. Em quatro meses de existência, já foram realizados cinco módulos e mais de 250 pessoas foram atendidas com serviços prestados por docentes e alunos da Unama.
O professor Igor Charles, coordenador do curso de Geologia e do projeto, explica que as formações ocorrem todo mês e são feitas em eixos temáticos. O cronograma vai até o mês de junho, mas há planos de levar o “Maré Solidária” para outros municípios que tenham populações tradicionais voltadas para a pesca. “A ideia é levar ferramentas para fortalecer a economia local. Ensinar novas técnicas a partir da utilização dos recursos naturais da região, assim como aprender com eles como aplicar na prática o conhecimento teórico da academia”, afirma.
Acadêmicos dos cursos de Geologia, Gastronomia, Moda, Farmácia, Educação Física, Comunicação Social, Nutrição, Estética e Cosmética, Enfermagem, Medicina Veterinária e Ciência da Computação participam do projeto, indo até a cidade para participar das programações, ou já estão montando oficinas para realizarem com a comunidade nos próximos eventos. A criatividade dos universitários e dos professores, aliada ao potencial dos habitantes da Resex, abre as portas para uma série de possibilidades. Uma delas é a oficina de culinária e de nutrição, que mostrou as boas práticas na cozinha e a alimentação rica baseada em peixes, turu, camarão e caranguejo. 
A criação de uma rádio comunitária e de uma rádio web, bem como a gravação de um CD com o grupo feminino de carimbó “Flores do mangue” também são ações em andamento, supervisionadas pelo professor Mário Camarão. Outro trabalho em planejamento é o “Maré Fashion Week”, desfile de moda com os materiais produzidos pelas pescadoras. Todos os trabalhos desenvolvidos ao longo das oficinas serão apresentados no encerramento do semestre, em 29 de junho, em uma culminância que ocorrerá durante a tradicional festividade de São Pedro. 
“Queremos trabalhar mais os assuntos voltados para a economia solidária. As mulheres ainda receberão mais treinamentos sobre moda, gastronomia e empreendedorismo, aprendizados que poderão desenvolver a economia local”, ressalta. O caráter interdisciplinar e a interação direta e respeitosa com o cotidiano das pessoas são o ponto forte da iniciativa, acredita o professor. Ele destaca que toda a atuação do “Maré Solidária” é pautada pelas demandas da Associação Mocajuim, por meio de um conselho deliberativo. “Eles têm bastante autonomia e isso é uma forma de empoderamento, então o fato da Associação ser o nosso canal tem contribuído muito para o êxito. Até pessoas de Curuçá (município vizinho) tem frequentado as ações para conhecer o projeto”, observa.

NOVA AÇÃO
Educação ambiental, resíduos sólidos, esporte, cultura e lazer já foram temas de formações realizadas pelo projeto na Resex. A última foi no dia 12 de dezembro e contou com uma programação bem animada, com sessões de ritmos e slackline para a população. A ação deste mês foi adiada para 23 de fevereiro, em função das férias. O foco será conscientizar e tirar dúvidas sobre saúde, abordando questões do dia a dia laboral dos pescadores de caranguejo. “Um exemplo é o produto utilizado por muitos deles como repelente de mosquitos: o óleo diesel. É uma substância que possui metais pesados e pode causar diversas doenças, como câncer ou afetar o sistema nervoso. É importante levar essas informações para eles”, acrescenta.
Igor pontua que a atividade prática de extensão é essencial na formação profissional dos alunos, ainda mais relevante quando aliada à responsabilidade social. “Nós percebemos que o aluno começa a entender na prática qual a importância da profissão que escolheu e ainda como pode ser um cidadão mais consciente e útil para a sociedade”, afirmou. 
Para ele, as pessoas da comunidade que recebem qualificação se sentem valorizadas e prestigiadas com um trabalho contínuo. “Algo que deixamos bem claro aos alunos é que o projeto não é uma forma de assistencialismo e que nós também temos bastante a aprender com eles”, enfatiza.

Oficinas levam conhecimento e ajudam a fortalecer as comunidades

Presença certa nas oficinas do “Maré Solidária” e do “Jovem Protagonista”, Franciane Rodrigues Coelho mora em São João da Ponta e tem 21 anos. Ela cresceu vendo o pai trabalhar como pescador, profissão que o irmão dela também adotou, e cultivava o desejo de se tornar pescadora, ocupação exercida por muitas mulheres na região. Por causa de um problema na coluna, os planos tiveram que mudar e ela se viu meio sem perspectiva após o término do ensino médio. “Esses dois projetos têm sido uma lição para mim, em vários sentidos. Hoje penso em alternativas que antes nem contemplava. As ações despertaram o interesse de muitos jovens para várias áreas”, comenta.
A formação gastronômica foi uma das preferidas da jovem, que adora cozinhar. O contato com estudantes e professores de Geologia também chamou a atenção de Franciane, que gostaria de seguir uma carreira em que pudesse contribuir para a preservação ambiental. “Essa oportunidade, de aprender sobre todos esses assuntos, é imperdível. A gente sabe que não dá para contar com o poder público, então quero tirar o máximo de proveito desses trabalhos”, diz. Ela espera ver as comunidades fortalecidas a partir das oficinas, pois percebe que os grupos de pescadores e agricultores – estes últimos uma minoria na reserva – têm muita determinação e empenho, mas precisam se organizar melhor.
Ainda segundo ela, o artesanato é uma atividade comum entre as moradoras, embora tenha pouco mercado no município. “A minha mãe é uma das que faz peças de artesanato. Acho que se as mulheres formassem um grupo, uma marca, poderia gerar uma renda maior”, opina. O pai de Franciane, João de Lima Coelho, 53, integra o conselho deliberativo de Mocajuim e representa a classe dos caranguejeiros. Ele considera muito bem-vindas as ações como o projeto da Unama, não só pela capacitação, mas pelos laços afetivos que se formam entre os integrantes e os habitantes.
“Temos entre 50 e 60 jovens participando ativamente do projeto, bem interessados, além do público de outras faixas etárias. Mas especialmente para os jovens é uma chance muito especial, pois ajuda a capacitar essa futura geração que também precisa estar consciente da importância do mangue”, reforça. De fato, 60% do território da Resex é composto por manguezais e ela engloba todos os mangues de São João da Ponta, que têm uma biodiversidade riquíssima. A informação é do gestor da reserva pelo ICMBio, Waldemar Vergara Filho.
Na visão dele, que convive diretamente com as comunidades da área, o “Maré Solidária” surge como uma ponte, preenchendo lacunas e como uma ótima ferramenta de responsabilidade social. “O que o projeto, em parceria com o Jovem Protagonista, proporciona aos moradores é uma forma de revelar a eles espaços que antes estavam ocultos. Além disso, é uma forma da Unama, que leva a Amazônia no nome, cobrar uma atuação mais humana de seus professores e alunos, os futuros profissionais do mercado”, complementa.
Um dos estudantes envolvidos desde o começo é o acadêmico de Geologia Jorge Nadir, 19. Ele está no terceiro semestre e também ajuda na organização das ações. “Conversamos muito com os moradores sobre técnicas de coleta, eles nos ensinaram um método que criaram para reduzir a morte dos caranguejos durante o transporte. Ver a interação deles com o ambiente acrescenta muito como profissional e no desenvolvimento pessoal”, declara. Mesmo quando não há uma oficina sobre a área que ele estuda, Jorge faz questão de visitar a Resex. “É um lugar muito afastado e a gente percebe que faltam opções de atividades. É isso que queremos levar. Pretendo continuar participando das ações e levar esse aprendizado”, conclui.

“Maré Solidária” recebeu convite da Unesco

De acordo com o professor Igor Charles, a possibilidade de dar seguimento ao “Maré Solidária” em outras localidades surgiu a partir de um convite da Unesco no Brasil. “A vontade de fazer o projeto nasceu em fevereiro, durante uma visita do curso de Geologia à Resex. Passamos o resto do ano articulando até que conseguimos botar para rodar em outubro. Nós consideramos um programa piloto, que está dando muito certo. Queremos aprender com nossos erros e aprimorar nossos acertos para estender a atuação”, detalha. 
Um dos destaques do projeto é o apoio ao grupo “Flores do mangue”. O coordenador conta que a intenção de gravar um CD chamou a atenção da Unesco, que garantiu a produção e a distribuição de três mil cópias. Mesmo depois do encerramento, em junho, Igor pretende dar prosseguimento ao projeto com um segundo momento. Ainda neste ano, ele quer trazer moradores da Resex para os campi da Unama, em Belém. “Alguns já vieram e foi uma experiência enriquecedora, principalmente para os jovens. Com isso, queremos ampliar a perspectiva e estimular a continuidade do trabalho”, completa.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Na contramão da desigualdade social

*Publicado na página Responsabilidade Social, no jornal O LIBERAL de 14/01/2016 


BRENDA PANTOJA
Da Redação

Belém apareceu entre as 20 cidades mais violentas do mundo, ocupando a 18ª colocação na pesquisa, divulgada no ano passado pela organização não governamental (ONG) Conselho Cidadão para a Segurança Pública e Justiça Penal, do México. Os dados mostraram que a capital paraense tinha registrado 53,06 assassinatos para cada 100 mil habitantes. Outro estudo aponta que os 205 mais ricos da cidade detêm 70% da riqueza, enquanto apenas 5% ficam com os 20% mais pobres. O levantamento, que é do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), constata ainda que 33% dos habitantes são vulneráveis à pobreza, bem como, quase 30% da população ocupada não possui o fundamental e nem carteira assinada.
Os índices estão diretamente ligados e dizem muito sobre a desigualdade social na cidade que acabou de completar 400 anos. Quem destaca as informações é o professor Reinaldo Nobre Pontes, do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade Federal do Pará (UFPA). Assistente social com doutorado em Sociologia pela Universidad Complutense de Madrid, ele defende que a desigualdade social é a verdadeira nascente da violência. A relação entre estes dois aspectos precisa ser repensada, o que exige outro olhar sobre a criminalidade em Belém. 
Em 2012, Belém chegou a ser eleita a 10ª cidade mais violenta do mundo pela mesma ONG. Logo após a divulgação da pesquisa, a Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social (Segup) contestou a inclusão de Belém, afirmando que os dados analisados misturavam homicídios dolosos e culposos, mortes no trânsito, suicídio e outras situações que levam ao óbito. No entanto, o ranking brasileiro estabelecido pelo Mapa da Violência, coordenado por Julio Jacobo Waiselfisz, demonstra que entre 2000 e 2012 a taxa geral de homicídios em Belém cresceu 43,6%, enquanto as mortes violentas entre os jovens aumentaram em 62,5% no mesmo período.
Em bairros como Cabanagem e Benguí, a debilidade de políticas públicas favorecedoras de mais justiça e igualdade social, bem como a dificuldade de acesso a serviços básicos como educação e saúde de qualidade, são questões sérias, que podem impactar profundamente a vida de seus moradores. É o caso dos adolescentes Patrick Mesquita, Marcos Yan e Danúbia Rodrigues. Todos eles têm 15 anos e frequentam há mais de um ano o polo Mangueirão do projeto Pro Paz nos Bairros. Os meninos moram no bairro da Cabanagem e Danúbia vive no Benguí, onde contam que a violência urbana e institucional são situações rotineiras.
Danúbia, que cursa o nono ano do ensino fundamental, considera a precariedade da educação o maior retrato de uma sociedade desigual. “Lá no bairro, tem escolas que são dominadas pela malandragem, outras que são constantemente assaltadas, tem alunos que consomem droga lá mesmo. O colégio se torna um ambiente errado, justamente quando a educação deveria ser a base de tudo”, critica. Marcos foca em outro ponto, falando das dificuldades para conseguir atendimento médico no bairro.
“Os serviços de saúde já são complicados, são demorados e ainda acontecem assaltos nas unidades. Semana passada, levamos minha irmã, que está grávida e passou mal, ao posto, mas estava fechado porque tinha sido roubado”, conta. Os assaltos são frequentes no bairro e Patrick critica o aparente reforço no policiamento, mas que ainda não surtiu efeito. “Para mim, o que mais representa a desigualdade social é o fato da malandragem comandar algumas áreas. Na minha rua tem polícia passando 24 horas, várias viaturas circulando, mas a ação dos bandidos não diminui”, observa.
Os três adolescentes comentam que a falta de perspectiva é uma grande armadilha e que percebem isso ao conversarem com colegas e vizinhos e notarem a dinâmica do lugar onde estão inseridos. “Alguns amigos ficaram presos na criminalidade ou no tráfico porque não buscaram outros caminhos, acham mais fácil ganhar dinheiro dessa forma. Mas, na verdade, tem muitas possibilidades”, reforça Danúbia. Ela e Marcos já terminaram um curso de informática, que conseguiram por meio do Pro Paz. Ela se prepara para iniciar um curso de auxiliar administrativa e para fazer o teste do time de futebol da Escola Madre Celeste, que pode render uma bolsa de estudos.
Patrick descobriu uma paixão pela música no projeto e as aulas de percussão são as atividades preferidas dele, que pensa em se profissionalizar na área. “Quero fazer faculdade de música e também um curso na área de logística”, diz, mostrando que não pretende se limitar. Poder ampliar os horizontes é uma das vantagens mencionadas por eles sobre o Pro Paz, que também trouxe melhoria na saúde física e no desenvolvimento escolar. Ao todo, o polo Mangueirão atende cerca de 500 crianças e adolescentes, entre 8 e 18 anos, oferecendo as modalidades de atletismo, boxe, basquete, dança contemporânea, futsal, futebol de campo, caratê, capoeira, jiu-jítsu, matemática, leitura e informática.
A pedagoga Érica Johnston coordena o polo e acompanha a evolução não só dos meninos e meninas atendidas, mas também das famílias. “Trabalhamos com eles a cultura de paz e os valores, sempre perto da comunidade. Para muitos pais que trabalham fora o dia inteiro é importante saber que, no contraturno da escola, os filhos não estão ociosos na rua”, pontua. Ela avalia que a mudança de mentalidade e de visão é uma peça fundamental do projeto, uma vez que a equipe do polo orienta as famílias sobre vários direitos e estimulando o envolvimento dos filhos com as atividades desenvolvidas, mesmo fora do Pro Paz ou depois que eles completam 18 anos.
“É de grande importância a parceria que temos com diversas associações de moradores. Eles identificam crianças que podem ser atendidas e trazem para cá e nós também acompanhamos as demandas deles por emissão de documentos ou cadastro em benefício”, assegura. Os cursos profissionalizantes no Pro Paz nos Bairros são outras ferramentas de redução da desigualdade social,
fornecendo capacitação gratuita. Uma nova agenda será divulgada em março, de acordo com o presidente da Fundação Pro Paz, Jorge Bittencourt.
Ele frisa que a instituição atua em outras frentes e forma uma rede de articulação com órgãos públicos e movimentos sociais dos bairros. Desde o segundo semestre do ano passado, o Pro Paz nos Bairros começou a atender adultos das comunidades onde está inserido, contabilizando 1.200 alunos participando de hidroginástica, caminhadas, dança de salão, palestras e outras ações. “Acredito que a desigualdade está muito ligada à falta de oportunidades e queremos justamente oportunizar o acesso às politicas públicas existentes e construir juntos um novo caminhar, se preocupando primeiro com o resgate de valores nas famílias e nas comunidades. Se não plantarmos a semente no ambiente micro, não conseguiremos um resultado no macro”, acrescenta.
Como exemplo da parceria com projetos sociais independentes, Jorge cita o trabalho com o Terra Firme Esporte Clube para abrir vagas às crianças do bairro, assim como com a Associação Escolinha do Chuvisco, também voltada ao futebol, no Distrito Industrial. Atualmente, existem mais de 2.500 vagas nos cinco polos do projeto em funcionamento na Região Metropolitana de Belém (RMB): Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), Estádio Olímpico do Pará (Mangueirão), Praça Dorothy Stang (Sacramenta), e Instituto de Ensino em Segurança Pública do Estado (Iesp), em Marituba. Neste semestre, haverá ampliação do atendimento com novo polo a ser estabelecido no município de Ananindeua, no ginásio Abacatão.

Violência é muito mais do que um problema moral e ético, diz professor

Para o professor Reinaldo Nobre Pontes, altas taxas de desemprego e informalidade, associadas a uma educação de baixa qualidade e que exclui os mais vulneráveis são ingredientes que, se somados às desigualdades, propiciam a elevação da violência na forma de criminalidade. “A concentração de riqueza é a grande expressão da desigualdade. Para muitos, a violência parece espontânea ou como um problema moral e individual, mas não se resume a isso. O Brasil já é o quarto país que mais prende, tem aumentado cada vez mais seus gastos com segurança pública, mas a violência não diminui”, afirma.
Segundo ele, Belém é uma cidade paradoxal e desigual desde o início da sua ocupação. Esse processo deixou o que ele chama de “cicatrizes” na cidade. “Eu falo em cicatrizes porque é um cenário que pode ser visto do alto, com a cidade nitidamente cindida entre regiões mais aquinhoadas e outras mais empobrecidas”, detalha. O professor ressalta que este quadro se repete no mundo todo, pois se trata de um problema estrutural da sociedade.
Reinaldo enfatiza que uma mudança nesse modelo pode levar décadas e décadas para se desenvolver, além de passar por redução na desigualdade, por acesso a serviços essenciais básicos e geração de trabalho, abrindo outras possibilidades de distribuição de riqueza. “Aumentar policiais, vagas em presídios e cadeias não é a solução, embora seja necessário”, completa. É indispensável promover o debate em diferentes ambientes. “A violência pode acontecer na Terra Firme, mas o preconceito social não é uma violência? Assim como o preconceito racial e a homofobia? Não tem muito mais violência em roubar milhões da saúde, que está um caos, do que no roubo de um celular por um adolescente?”, questiona.
A discussão precisa ser feita, acredita ele, para que a violência deixe de ser enxergada meramente como um problema moral e ético. “Estes valores fazem parte, mas enquanto acreditarem que a pessoa é pobre e violenta porque quer, estaremos longe da solução. Temos que atacar nas frentes das políticas públicas, do conteúdo da educação na escola e da formação familiar”, complementa. 

sábado, 14 de janeiro de 2017

Iniciativa muda a rotina de hospitais

*Publicado na página Responsabilidade Social, no jornal O LIBERAL de 07/01/2016

BRENDA PANTOJA
Da Redação

 Balões, bolhas de sabão, brinquedos e o principal: sorrisos, muitos sorrisos. Essas são as principais ferramentas do Grupo Sorria, da Unimed Belém, para amenizar o ambiente de tensão em hospitais e trazer mais alegria aos pacientes e acompanhantes. A iniciativa, que completa uma década neste ano e já alcançou milhares de pessoas, quer expandir o trabalho. Em Belém, outros grupos também atuam na mesma linha e alguns são totalmente independentes, contando apenas com a disposição de voluntários que querem melhorar a situação daqueles que estão enfrentando uma doença. Afinal, a sabedoria popular garante que rir é o melhor remédio.
Pelos corredores de um hospital no bairro de Batista Campos, o ambiente ia mudando nitidamente por onde passavam o Dr. Tonton, a Dra. Moranguinho, o Dr. Bugiganga e a Dra. Morenuxa, alguns dos personagens que fazem parte do grupo, composto por 35 membros, entre voluntários e colaboradores da Unimed. Na enfermaria onde estava internado Lucas Vítor, 10, as brincadeiras dos palhaços vieram em boa hora. “Ver ele interagindo, se distraindo é muito bom. Faz bem para a família também porque as crianças sentem no ar a tensão. Seria tão bom se essas visitas fossem diárias e adotadas também na rede pública”, comentou a mãe do garoto, Eliângela Gonçalves, visivelmente emocionada.
Para ela, as dinâmicas foram uma válvula de escape para a pressão. “Ele está doente desde o dia 23 e estamos indo e vindo do hospital. Hoje decidiram internar e vamos fazer mais exames para definir o melhor tratamento. Uma ação como essa acrescenta muito para a nossa autoestima”, acrescentou. A analista de sistemas Raquel Cohen, 25, também estava angustiada, mas acabou se divertindo junto com o filho Miguel, de apenas 2 aninhos, durante a atividade. Por causa de uma picada de inseto que infeccionou perto do globo ocular, o menino ficou em observação por 48 horas. “Eu e ele estávamos aflitos, mas a visita do grupo melhorou totalmente o nosso dia. Só de ver o nosso filho brincar e rir, a gente relaxa um pouco”, disse.
A partir da técnica de art clown, o projeto leva otimismo, atenção e mais qualidade no acolhimento aos pacientes, reforçou o vice-presidente da empresa e coordenador das ações de Responsabilidade Social, o médico Antônio Travessa. “Essa técnica é difundida em todo o mundo. Existem estudos que comprovam, e nós podemos ver isso continuamente nos nossos clientes, o impacto na recuperação quando se busca melhorar o espírito, a confiança”, destacou. 
Por trás das maquiagens e roupas coloridas estão pessoas como Nelson Delgado, 36, profissional de Tecnologia da Informação. Há quatro anos, ele é o Dr. Tonton e para realizar o trabalho voluntário foi treinado pelo ator Ricardo Tomaz, instrutor do Grupo Sorria desde a sua criação. Ricardo explicou que há muita preparação para aplicar a terapia do riso. “Todos que entram passam por oficinas para aprender a técnica do palhaço de hospital, oficinas de balão, musicalização, maquiagem e construção de personagem”, contou.
A intenção não é mudar o paciente, mas sim modificar o ambiente do hospital. “Quando eles chegam, vão quebrando aquele paradigma do silêncio, da rotina, da hora marcada. Antes, tem um diálogo com a equipe sobre a situação dos pacientes e eles ficam livres para brincar, levar um pouco de esperança”, acrescentou a assistente social Vanessa Camarão. O grupo se reveza para fazer, em média, oito visitas por semana e vai a pelo menos 12 instituições parceiras, incluindo hospitais da rede pública e outras unidades da rede privada. Eles também costumam participar de ações pontuais em comunidades ribeirinhas, creches e escolas.
Para este ano, a meta é resgatar antigos voluntários que passaram pelo Sorria, para dar mais fôlego ao projeto. “Como voluntário, eu aprendo muito e o diferencial desse trabalho é que acontece o ano inteiro, não só em datas especiais. Ver a resposta do público nos marca muito porque muitos agradecem e se emocionam”, completou Nelson. O grupo faz parte do Programa Viver Bem, da Unimed, que inclui outras ações de responsabilidade social. Helena Balbinot é psicóloga do Viver Bem e sustenta a eficiência das visitas. 
“Além do paciente e seus familiares, a ação também mexe com a equipe multiprofissional, que passa por muita tensão. O ambiente geralmente é de ansiedade e tristeza e pesquisas mostram que o estado emocional pode interferir no agravamento de uma patologia. Por isso é tão importante levar entretenimento e alegria a este público”, frisou.

Trabalho do Grupo de Ouro Nacional vai além do ambiente hospitalar

Com atuação, principalmente, no bairro da Terra Firme, o Grupo de Ouro Nacional (GON) vai a hospitais e associações que recebem crianças que enfrentam o câncer, levando grupos de contadores de histórias e personagens para promover atividades lúdicas no Hospital Ophir Loyola e outras instituições. Criado há três anos, eles também tem outra vertente, que é o contato domiciliar com os pacientes oncológicos. Semanalmente, os voluntários vão às casas das pessoas cadastradas para fazer o acompanhamento, que pode incluir ajuda com remédios, cesta básica, encaminhamentos médicos, ou simplesmente fortalecer os vínculos afetivos.
O autônomo Cláudio Alves, 46, não tem dúvida de que o apoio do GON foi determinante para que o filho, Kennedy, conseguisse fazer um transplante bem sucedido de medula óssea. Diagnosticado com leucemia no dia 13 de fevereiro, a família logo descobriu que o filho mais velho era compatível, mas este foi só o começo da batalha. A operação não era realizada no Pará e ele teve que ser transferido para Recife. “Só a burocracia com documentação demorou um mês. Fora os custos. Calculo que gastamos mais de R$ 30 mil. Foi aí que entrou o GON. Nós realizamos uma caminhada em prol do meu filho e conseguimos levantar o valor necessário”, recordou.
Outra ajuda do GON foi com campanhas de doação de sangue. “Por duas vezes, durante o tratamento, meu filho ficou sem sangue para receber. Se não fosse a gente correr atrás, divulgar e pedir, sabe lá quanto tempo teríamos que esperar”, ressaltou. Kennedy foi operado em novembro e a notícia tão esperada foi confirmada: não houve rejeição da medula. Ele está no pós-operatório em uma casa de acolhimento em Recife e a previsão é que volte para Belém no fim do próximo mês. Cláudio se tornou um dos 30 voluntários e acredita que o suporte emocional precisa ser olhado com mais atenção pelos hospitais da rede pública.
A dona de casa Odineide Nery, 40, é uma das cadastradas que contou com a assistência emocional do grupo e acredita na relevância de trabalhos com esse propósito. O diagnóstico do câncer de mama e a cirurgia para retirar o tumor ocorreram há mais ou menos um ano, depois vieram algumas sessões de radioterapia e quimioterapia. “Durante todo esse processo, o GON me acolheu. Graças a Deus, não precisei de apoio financeiro mas o incentivo e a força que eles me deram, assim como a família, fez muita diferença na forma de encarar o tratamento”, assegurou. Ela já deixou as sessões e está somente em fase de acompanhamento.
A universitária Keila Paiva, 18, é voluntária do GON desde o começo e é responsável pelas campanhas de mobilização. Segundo ela, o ponto forte da entidade é a articulação. Quando visitam lugares como a Casa Ronald McDonald Belém, que abriga crianças e adolescentes do interior do Pará em tratamento contra o câncer, o grupo procura parcerias com coletivos culturais, grupos de dança, teatro e música do bairro. “Esses momentos, em que arrancamos sorrisos deles, são maravilhosos. Tem, ainda, o trabalho de conscientização nas escolas. Levamos toda uma programação para falar sobre prevenção e diagnóstico precoce”, detalhou. Em 2016, o GON quer aumentar o número de famílias cadastradas, que já são em torno de 50, e montar uma agenda fixa mensal de visitas a instituições. 

“Os EnferMágicos” levam humor e esclarecimentos aos pacientes

“Os EnferMágicos” também apostam na descontração e no humor para ter um impacto positivo nos usuários do sistema público de saúde, mas eles também fazem questão de levar informação. Através dos “educa-shows”, a equipe de seis voluntários consegue captar a atenção do público e promover a educação. Idealizado em 2014 pelo estudante do 5º semestre de Enfermagem da Universidade Federal do Pará (UFPA), Marcos Trindade, o lema principal deles é: “A magia de cuidar é cuidar com amor”.
Todos caracterizados com figurinos de enfermeiros mágicos, vestidos de jaleco-smokin, as apresentações são regadas a muita música, brincadeiras e brindes numa perspectiva de conscientizar e promover a prevenção. Recentemente, eles estiveram no Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza para alertar sobre o zika vírus, além de ações especiais com a terceira idade em abrigos e projetos. “Quando levamos esses dados importantes em uma linguagem mais acessível e de forma divertida, estamos contribuindo para incentivar hábitos saudáveis, além de humanizar o espaço hospitalar. É interessante tanto para os pacientes, que se sentem mais próximos e imediatamente ao final vem tirar dúvidas, quanto para a formação de profissionais mais sensíveis”, defende. 
Por enquanto, o grupo é formado exclusivamente por estudantes de Enfermagem, mas Marcos está empolgado com a ideia de ampliar a atuação. A iniciativa é totalmente independente e sem ligação trabalhista com a UFPA, portanto não oferece bolsa ou carga horária. Com a greve de quase quatro meses dos professores e técnicos no ano passado, o grupo conseguiu realizar poucas apresentações. “Antes de montar cada educashow, a gente se prepara com muita pesquisa. Recebemos contato de alunos de várias áreas, desde Biblioteconomia até Educação Física, e queremos incluir mais gente no projeto. Estamos montando nosso cronograma de ações para este ano, além de estarmos em busca de apoios e doações, pois os recursos são poucos”, complementou Marcos, que também é músico e compositor. 

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Economia feita de talentos criativos

*Publicado na página Responsabilidade Social, no jornal O LIBERAL de 24 e 25/12/2015

BRENDA PANTOJA
Da Redação

As sementes, fibras e escamas que compõem as peças de artesanato regional, desenvolvidas pela criadora e acadêmica Carmen Américo, carregam uma carga bem mais forte do que apenas embelezar quem as usa. Alinhados com o conceito de economia criativa, os acessórios também trazem a importância da preservação da floresta e da inclusão social de comunidades do interior. Esta atividade econômica, que se alimenta dos talentos criativos que se organizam individual ou coletivamente para produzir bens e serviços, está em expansão no Brasil, crescendo acima da média nacional de outros setores. Ela movimenta R$ 126 bilhões por ano em riquezas e é um mercado de trabalho que cresceu 90% em dez anos, empregando quase 900 mil pessoas. 
Os dados são do ano passado, divulgados pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). Na Região Amazônica, tão rica culturalmente e com tanta desigualdade social, a economia criativa pode ser uma forte ferramenta de inclusão. A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) definiu seis setores criativos nucleares, que se desdobram em pelo menos 26 atividades associadas. São eles: patrimônio natural e cultura; espetáculos e celebrações; artes visuais e artesanato; livros e periódicos; audiovisual e mídias interativas; e design e serviços criativos. 
O Espaço São José Liberto, que abriga o Polo Joalheiro do Pará, atua em diversos segmentos criativos e impulsiona o trabalho e a profissionalização dos empreendedores que apostam na ligação do produto com as raízes culturais. No trabalho de Carmen Américo, 38, há ainda o desejo de transmitir uma consciência política aos envolvidos. Ela se divide entre Belém e Mocajuba, distantes cerca de 230 km, pois precisa estar na capital por causa do doutorado em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade Federal do Pará (UFPA), mas é em Mocajuba que desenvolve o projeto “Amazônia e Cia”.
Em quatro anos, Carmen formou 54 pessoas, além de firmar parcerias com fornecedores de matéria-prima da comunidade e até do estado do Acre. As biojoias começaram a ser elaboradas dentro do projeto e agora ela lançou a marca Carmen Américo Criações, que atua em parceria com os artesãos e artesãs que passaram pela capacitação. “A ideia é casar a sustentabilidade ambiental, a necessidade real das pessoas de uma fonte de renda e a oferta de recursos. Existe um potencial não explorado baseado no valor estratégico que a própria Amazônia tem”, afirma.
As sobras orgânicas da floresta são o principal material usado por Carmen, que acredita que as peças artesanais atingem um nicho de mercado preocupado com a produção sustentável. “Em 2010, comecei a visitar as áreas rurais e as periferias da cidade, que se expandiram consideravelmente desde a década de 80, mas o emprego e renda não cresceu na mesma proporção. O projeto surgiu baseado nessa lacuna”, conta.  A preocupação principal da atividade, define Carmen, é com as pessoas. Com o apoio do Serviço Brasileiro de apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), ela levou treinamento para jovens e adultos, que aprenderam as técnicas de confecção das biojoias.
É por investir nesse formato, explica Carmen, que os produtos carregam valores de outro modelo econômico, um mais centrado na pessoa e na economia solidária. A ideia é formar multiplicadores, homens e mulheres, que possam reproduzir as oficinas e fortalecer uma rede de produção. “Além disso, ao desenvolverem esse ofício, muitas mulheres podem trabalhar em casa. Na região, é comum que as mães não possam trabalhar fora por causa dos filhos. Fazer as biojoias é uma forma de empoderar elas. Nossa ambição é que elas se articulem socialmente no futuro para mudar a sua realidade”, pontua. 
Ela defende que a mente humana é a grande força motriz da economia criativa, que também tem nos elementos culturais um aspecto muito forte. O maior desafio de Carmen e da equipe é criar coleções que agradem o público local, pois a aceitação é mais fácil entre os estrangeiros, que tem um fascínio pela Amazônia, enquanto os consumidores daqui dão mais valor ao que vem de fora. Do ponto de vista produtivo, ela aponta a necessidade de organizar melhor as cadeias e de maior investimento do poder público, uma vez que o setor tem a capacidade de se tornar rendável em pouco tempo. “Em um ou dois meses, você consegue formar o artesão e colocá-lo para produzir, desde que tenha mercado. Se não tiver para quem vender, não adianta”, acrescenta.

Gemas vegetais são produzidas a partir de pigmentos da flora regional

Entender que manter a floresta em pé também gera renda é um princípio importante, segundo Carmen, pois fortalece as comunidades locais, beneficia o meio ambiente e continua gerando matéria-prima para diversos segmentos. O mesmo discurso é defendido pelo mestre ourives Paulo Tavares, que desenvolve pesquisas na área de joalheria há 15 anos. A exploração irresponsável de minérios sempre o incomodou e foi o motivou a pesquisar a cadeia de produção, procurando alternativas. Foi assim que ele chegou às gemas vegetais, produzidas a partir de pigmentos da flora regional, combinadas com resina.
Açaí, pimenta, pau brasil, urucum e muitas outras espécies são usadas no processo, descoberto e patenteado por ele. Junto com ouro, prata e outros materiais nobres, as gemas compõem belas jóias. “As gemas são um processo inovador e único, mas o processo ainda é bem artesanal. Nosso próximo passo é organizar comunidades para fazer a coleta da matéria prima. A intenção é gerar renda para as pessoas que precisam , transformar o modelo econômico de algumas localidades”, comenta. O trabalho com as gemas, que já rendeu prêmios internacionais, é fruto da pesquisa de Paulo e as peças são comercializadas pela empresária Mônica Matos, da Jóias da Amazônia.
Para eles, produzir com consciência socioambiental é uma postura que deve ser fortalecida dentro da economia criativa e na sociedade, como um todo. “O que mais falta é investimento [na economia criativa]. Esse tipo de trabalho, como o nosso, está muito ligado aos interiores, com forte carga cultural da floresta. É de onde vem o produto e a inspiração. O consumidor deste produto também é consciente e valoriza o trabalho que há por trás, de proteção ambiental e inclusão social. A 
minha satisfação é saber que o produto beneficiou alguém nas comunidades, que deixaram de derrubar uma árvore porque ela está dando renda”, complementa Paulo.
De acordo com Mônica, a aceitação dos produtos com as gemas vegetais foi surpreendente. “No começo achávamos que só ia interessar aos turistas, mas não. Isso mostra que a cultura do consumo está mudando entre consumidores e produtores. Como empresária, investi porque acreditava e acredito que o mercado da economia criativa ainda pode crescer muito”, reforça. Ela acertou ao apostar nesta tendência, há quase dez anos atrás. Levantamentos da Firjan mostram que o setor pulou de 148 mil empresas, em 2004, para 251 mil empresas em 2013, num crescimento de 69%.

Inclusão social produtiva das comunidades não é assistencialismo

“Empreendedores criativos são uma espécie de guardiões da cultura amazônica”, declara a diretora executiva do Espaço São José Liberto (ESJL), Rosa Helena Nascimento Neves. Ela salienta que a inclusão social produtiva das comunidades da região não deve ser visto como caridade ou assistencialismo, mas sim como elemento de desenvolvimento econômico. “Valorizar esse modelo econômico que foge do tradicional e valoriza o artesanal é uma escolha desses produtores e do governo, não é uma questão de falta de tecnologia industrial”, esclarece.
Ainda de acordo com ela, este posicionamento da economia criativa se baseia em quatro fatores: inclusão social, inovação, diversidade cultural e sustentabilidade. O objetivo do ESJL é integrar estes
princípios e repassar isso aos profissionais vinculados, que são 750 empreendedores de artesanato, 110 ourives, 52 empresas de jóias, 45 empresas de moda e 42 designers. Ainda que o Espaço tenha surgido em 2002 já com a proposta de abrigar setores criativos e categorias culturais, a discussão em torno da economia criativa se oficializou há pouco tempo, ganhando um plano nacional apenas em 2011, montado pelo Ministério da Cultura.
“É um conceito que ainda está em construção, uma modalidade que precisa ser mais valorizada. Ainda mais em um país e uma região como a nossa, que é muito diversa culturalmente. Eu não vejo uma melhor via para o desenvolvimento econômico das comunidades locais que não passe pela inclusão social produtiva”, diz.