terça-feira, 28 de outubro de 2014

DPVAT evidencia violência no trânsito


*Publicado no jornal O LIBERAL de 22/09/2013

BRENDA PANTOJA 
Da Redação

           No primeiro semestre deste ano, R$ 1, 56 bilhão foi  pago pelo Seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre (DPVAT) a vítimas de acidentes de trânsito em todo o País. São indenizações por morte, invalidez permanente e reembolsos de despesas médicas e hospitalares para 299 mil pessoas. A quantia é 38% maior que a paga no mesmo período do ano passado. O Estado concentrava, até junho, 3,42% das indenizações no País, com 992 benefícios, segundo o Sindicato dos Corretores e das Empresas Corretoras de Seguros (Sincor/PA) e da Seguradora Líder, que administra o seguro DPVAT. A preocupação é que, até dezembro, a frota de veículos deverá chegar a 500 mil na Região Metropolitana de Belém, de acordo com Carlos Valente, coordenador de planejamento do Detran).
       Em 2011, o Pará teve 1.124 mortes no trânsito e ultrapassou os 46 mil acidentes, com o consumo de álcool aparecendo como possível causa em 325 casos. Valente ressalta, contudo, que a embriaguez também está relacionada a manobras irregulares, avanço de sinal, falta de atenção, excesso de velocidade e outros motivos. “A bebida alcoólica é uma das principais causas de vítimas fatais no trânsito, com quase 50% das mortes no País, e no Pará não é diferente”, pontua. Entre janeiro e maio deste ano, o Detran registrou 10.782 ocorrências do tipo “dirigir sob influência de álcool” em todo o Estado. Só em Belém, no mesmo período, foram 1.646 autuações dessa categoria.
A maior concentração de ocorrências está nas rodovias BR 010, 316 e 163, vias que são perigosas naturalmente. O assunto é discutido durante a Semana Nacional do Trânsito (SNT), que vai até quarta-feira e debate o tema “Álcool, outras drogas e a segurança no trânsito: efeitos, responsabilidades e escolhas”. “O número de autuações seria ainda maior se tivéssemos mais equipamentos para fazer a aferição da taxa de álcool no organismo no condutor”, afirma Valente, que defende a prevenção de acidentes para desafogar o sistema de saúde. “Muitas vezes um paciente em situação menos grave não consegue atendimento por falta de leito, ocupado por um acidentado de trânsito”, exemplifica. Do montante arrecadado pela seguradora Líder, 45% é repassado ao SUS, o equivalente a R$ 2,2 bilhões nos primeiros seis meses de 2013.
Somadas todas as categorias de veículos cobertas pelo seguro (carros, motos, ônibus e caminhões), foram pagas 29.025 indenizações por morte, 215.530 indenizações por invalidez permanente e 54.735 reembolsos de despesas médicas e hospitalares. O relatório publicado pela seguradora Líder aponta que do total de pessoas que sofrem algum tipo de dano em acidentes de trânsito, 70% estão na faixa etária de 18 a 44 anos, ou seja, a que concentra a maior parcela da população economicamente ativa do País. “É uma população que tem acesso à informação e é esclarecida, mas insiste em dirigir sem habilitação e embriagado”, critica.
Carlos Ubirajara, 44, é um dos mais de 215 mil brasileiros indenizados por invalidez permanente. Em um acidente, em setembro do ano passado, ele perdeu a visão no olho esquerdo e ficou com menos de 10% de visão no olho direito. Ele trabalhava como  metrologista e fazia uma viagem a trabalho pela rodovia PA-150, quando uma carreta freou após uma curva, para desviar de um buraco, e ele não conseguiu evitar o choque. “Estava com o cinto, mas o impacto foi tão forte que perdi a visão na hora. Fui levado para o pronto socorro de Tailândia, mas o hospital não tinha condições de me tratar e me transferiram para Belém, numa agonia que durou quase 10 horas”, recorda. Somente seis meses depois, ele recebeu o DPVAT, no valor de R$ 13.500, de duas vezes, após enfrentar muita burocracia.
Em Belém há 26 pontos autorizados para solicitar o seguro. Ubirajara recomenda que o segurado ou a família liguem para os postos de atendimento e confirmem a documentação necessária para evitar transtornos. “Foram cobrados vários documentos que deveriam ter sido emitidos no local do acidente; precisei de diversos laudos para comprovar que os dois olhos tinham sido afetados e receber a indenização integral”, conta. Ele era temporário na empresa e se aposentou por invalidez pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) no final de outubro, ainda a tempo de fazer duas cirurgias. “Ficou faltando uma operação no nariz; fiquei praticamente sem olfato depois do acidente, mas não tenho recursos para pagar a cirurgia”, lamenta.
Mesmo com 18 anos de experiência dirigindo na estrada, Ubirajara foi vítima das péssimas condições das rodovias no estado. “No começo, disseram que perderia a visão, mas hoje consigo enxergar com a ajuda de um óculos de 10 graus. E, principalmente, escapei da morte”, completa. A jovem Marina Holanda Silva de Lima não teve o mesmo destino. Aos 25 anos, morreu em um acidente no centro de Belém, em março de 2005. A mãe, Nádia Silva de Lima, 55, até hoje não sabe a causa da tragédia, que vitimou a filha e o namorado, quando saíam de uma festa. “Eles dirigiam de madrugada com frequência, sempre revezando a direção caso um tivesse bebido, mas nunca haviam se envolvido em acidente”, lembra. Um dos veículos, não sabe-se qual, avançou o sinal.
Os passageiros do outro carro não tiveram ferimentos graves. A família de Marina recebeu o DPVAT, na época no valor de R$ 10 mil. “Pelo que eu percebo, as pessoas em Belém ainda não entenderam que algumas atitudes são perigosas, põem a si mesmo e aos outros em risco e  podem acabar com a vida de pessoas queridas”, alerta.

FRAUDES

O Sincor/PA é um dos pontos autorizados do seguro DPVAT e no primeiro semestre já faz 1.726 atendimentos. O diretor do sindicato, Otávio Augusto Souza, avalia que a maior dificuldade é a divulgação dos direitos das vitimas de acidentes. “É essencial que os interessados busquem se informar para não caírem na armadilha de pessoas que tentam tirar vantagem”, orienta. A seguradora Líder intensificou  o combate à fraude no primeiro semestre deste ano, com comprovação de 2.473 tentativas de fraude, que poderiam ter gerado perdas  de até R$ 11,3 milhões. Dados coletados pela entidade mostram ainda que a motocicleta é o  veículo com maior incidência de acidente com vitimas, representando em média 66% das  indenizações entre os meses de janeiro a junho de 2012 e 2013 no Estado.
A seguradora Líder aponta que, embora as motocicletas representem 27% do total da frota de veículos do Brasil, elas correspondem a 62% do valor total pago e 71% da quantidade de vítimas indenizadas. “Foram 11.712 indenizações por morte em acidentes envolvendo motocicletas, o que representou 40% dos pagamentos por óbito do primeiro semestre de 2013. Em valores, essas indenizações chegaram a R$ 151,1 milhões”, informa o relatório disponível no site www.seguradoralider.com.br. A página na internet www.dpvatsegurodotransito.com.br também reúne informações sobre o assunto e o Sincor/PA fornece esclarecimentos pelo telefone 0800 7030993 ou assistência pessoal na sede, localizada na avenida Duque de Caxias, nº 295, entre as ruas  Domingos Marreiros e Antônio Barreto.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Pai e filho compartilham mais que amor

*Publicado no jornal O LIBERAL de 11/08/2013

BRENDA PANTOJA
Da Redação    

    Pai e filho atendem pelo nome de Hélio Dourado. Na tentativa de especificar, não adianta chamar pelo "professor Hélio", pois os dois também compartilham a profissão. Além da relação familiar, os pontos em comum aproximam ainda mais Hélio Vieira Dourado, o pai, de 72 anos, e o filho Hélio Platilha Dourado, 30 anos. Por outro lado, as diferenças já podem ser vistas na sala de aula. O primeiro leciona as disciplinas de Física e Matemática enquanto o outro dá aulas de Português e Inglês. "Sempre tive facilidade em matérias de Humanas e passei arrastado em Física, acabava sendo a pior propaganda do meu pai", brinca Hélio.
    Ainda que hoje dividam a mesma paixão pelo magistério, eles chegaram à carreira por caminhos diferentes. "Quando soube que ele também queria ser professor tomei um susto, porque até então ele desejava ser médico e queria distância da profissão", lembra o pai. De fato, a decisão foi uma surpresa até para o filho, que tentou o vestibular para Medicina durante quatro anos. "Quando concluí meu curso de inglês fiz a seleção para ser professor, apenas como uma forma de ganhar dinheiro extra, mas acabei me encantando pela sala de aula e escolhi entrar na faculdade de Letras", conta. 
    Ele garante que a influência e o incentivo do pai foram fundamentais para a mudança de visão profissional. Hélio Dourado, o pai, começou a dar aulas muito jovem, aos 13 anos, antes mesmo de ser aprovado em Engenharia Civil. E lá se vão 59 anos, sete vezes mais tempo de experiência do que o filho. "Os mesmo alunos, às vezes até os filhos e netos deles, que passaram pelas aulas do meu pai agora chegam às minhas e é muito legal educar gerações diferentes ", afirma. Eles avaliam que o aprendizado é mútuo e contínuo. "Ser aluno do meu pai me ensinou muito sobre a postura do educador em sala, como abordar o conteúdo e os alunos", revela ele, ao que o pai responde: "e eu aprendi a analisar e entender o comportamento da juventude atual, levando as impressões de dentro de casa para a sala de aula". 
     Para ele, o magistério está no sangue. "Acho que é uma vocação hereditária, porque minha mãe era professora, meu tio e minhas irmãs também são", acredita o pai, que também casou com uma professora. Hélio, que é filho único, cresceu nesse meio e aprendeu a enxergar a profissão com carinho e a troca de conhecimento com o pai é enorme. "Frequentemente peço orientação a ele em relação a alguma turma ou projeto pedagógico, até pela questão do temperamento: eu sou muito explosivo e ele é mais analítico", admite. Em contrapartida, ele tenta ajudar o pai a lidar com ferramentas mais tecnológicas dentro e fora das salas. Hoje, o Dia dos Pais será comemorado com o tradicional almoço em família. 
     O filho se diz orgulhoso do nome similar, dado em homenagem ao pai e ao avô, e dos valores recebidos durante a criação. "Tudo o que eu sou em termos de princípios, respeito e bem-viver é reflexo da educação do meu pai", reconhece. A paternidade também trouxe sabedoria ao professor Hélio Dourado, figura respeitada nos colégios paraenses. "Mesmo das nossas incertezas e inseguranças durante o desafio de educar uma pessoa a gente tira muitos ensinamentos e fica a alegria de ver a pessoa extremamente honesta que formamos", elogia ele. Entre fórmulas da Física e textos da Literatura, pai e filho acreditam que falam a mesma linguagem e frisam que a admiração é recíproca. 
     A psicóloga Jesiane Calderaro, vice-presidente do Conselho Regional de Psicologia (CRP), explica porque, muitas vezes, os pais se tornam modelo e inspiração para os filhos. "Desde crianças a noção de valores inscrita e absorvida em nossa realidade psíquica sobre o pai tem o  significado  de que ele é aquele  suficientemente forte, que acolhe, que carrega no colo, que protege, sustenta, disciplina quando há necessidade e  que premia quando há merecimento", detalha. Com essa imagem em mente, a pessoa geralmente busca um caminho para despertar igual admiração no pai, mesmo quando adota uma atitude de confronto, fase observada principalmente durante a adolescência e juventude.
        "A discordância é saudável nas pequenas decisões, à medida que  se constituem  um treino para a posteridade, ocasião na qual a pessoa já adulta, e não poucas vezes,  terá que tomar decisões sozinha, ser convincente ou enfrentar diversas oposições", esclarece. Ela acrescenta que a análise se estende a outras referências paternas, que podem ser o avô, irmão mais velho, padrasto e, em alguns casos, até mesmo a mãe. A psicóloga atribui essa flexibilidade nos papeis familiares às atuais "reformulações na conjuntura social". 

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Site fornece rota dos ônibus em Belém

*Publicado no jornal O LIBERAL de 28/07/2013

BRENDA PANTOJA
Da Redação     

     Colaboração é a chave para o projeto Rota Urbana, que ajuda usuários de transporte coletivo a encontrarem o ônibus mais indicado para o trajeto que desejam. A informação vem através de um site que mostra mais de 80 linhas e seus respectivos percursos. A iniciativa foi desenvolvida por alunos dos cursos de Ciências da Computação e Sistemas de Informação da Universidade Federal do Pará (UFPA), pensando em suprir uma necessidade dos moradores da Região Metropolitana de Belém que enfrentam diariamente o trânsito caótico da cidade. Qualquer pessoa pode acessar a página na internet e contribuir com informações sobre um novo roteiro, corrigir dados ou fazer sugestões, baseando-se em um conceito chamado crowdsourcing. 
     O endereço do site é www.rotaurbana.net.br e um dos desenvolvedores, Adailton Lima, explica que a página está em fase beta, ou seja, sofrendo alterações frequentemente conforme as ferramentas são aprimoradas. “O projeto é fruto de um trabalho acadêmico feito por cinco alunos, que precisava atender uma demanda concreta da sociedade e o trânsito foi uma das principais questões apresentadas”, conta ele, que já é formado em Ciências da Computação e atualmente cursa doutorado na área. Ele e outros dois ex-alunos coordenam uma pequena empresa de base tecnológica e decidiram investir na tecnologia elaborada pelos estudantes. 
     “Algumas empresas disponibilizam o itinerário da frota, mas em forma de lista com os nomes das ruas e não atualizam constantemente, um problema para uma cidade que sofre várias alterações no trânsito por causa de obras como o BRT”, afirma. Baseados nas informações fornecidas pelas empresas e, principalmente, pelos usuários do transporte coletivo, chegou-se ao formato atual do Rota Urbana. Ao acessar o site o internauta se depara com um mapa e dois sinalizadores que podem ser arrastados para indicar os pontos desejados de saída e chegada. Após clicar em “Consultar Linhas de Ônibus” o sistema mostra as opções em um raio de 200, 300 ou 500 metros, que foi a distância máxima apontada pelos entrevistados para se deslocar até um ponto de ônibus.
     Também é possível consultar uma linha específica pelo nome ou número e visualizar todo o trajeto que ela faz. “Eles fizeram pesquisa com usuários de ônibus para saber quais eram as maiores dúvidas e reclamações. A falta de um espaço que concentrasse informações foi uma das queixas”, completa. O projeto foi lançado oficialmente em maio e já registra 150 acessos diários. Adailton atribui a repercussão à ideia que atinge uma carência e à plataforma de fácil acesso. “A pessoa pode consultar antes de sair para pegar o ônibus ou mesmo pelo telefone celular que tenha internet, mas o próximo passo é desenvolver um aplicativo para smartphones que facilite a consulta”, adianta.
     O planejamento do projeto inclui uma série de ações, como a apresentação de outros tipos de rotas. Passeios de bicicleta, patins e roteiros turísticos poderão ser incrementados futuramente. “Dentro de duas semanas, no máximo, os usuários poderão ver a localização das paradas de ônibus, para saberem exatamente onde subir e descer do coletivo”, garante. Por enquanto, o projeto não gera renda, mas Adailton mencionou a ideia de negociar funcionalidades como anúncios de cooperativas de táxis como um meio de garantir as despesas, mas sem influenciar no resultado final gratuito para o usuário.
     A universitária Thalita Oliveira, 21, vê muitas vantagens no Rota Urbana por ser alguém que precisa usar transporte coletivo diariamente e tem bastante dificuldade em memorizar os percursos. “Achei a iniciativa maravilhosa porque quanto tenho dúvidas sobre o caminho que o ônibus vai fazer preciso ligar para conhecidos ou perguntar para as pessoas”, confessa. O aplicativo para celular seria uma solução ainda mais prática para quem já está na rua e precisa tirar uma dúvida, acrescenta ela. “Já tive conhecimento de um site com a descrição das rotas, mas foi atualizado pela última vez há quatro anos e ter essas informações recentes, concentradas em um só lugar ajuda muito”, frisa. 
Adailton ressalta que o projeto não é novidade para muitas cidades brasileiras, como Porto Alegre (RS) e Rio de Janeiro (RJ). “Aqui em Belém as deficiências no trânsito são muitas e podemos adaptar para a nossa realidade, ampliando o alcance para outras cidades do estado, para públicos diferentes e para portadores de necessidades especiais”, comenta. A acessibilidade também é pensada no projeto e, segundo ele, há estudos sendo feitos para que um deficiente visual possa usar o aplicativo e ouvir quais ônibus passam no local em que ele está, assim como o itinerário deles. O site possui versão em inglês e uma página destinada ao “feedback” dos usuários, onde podem ser publicadas sugestões e opiniões. 

TÁXI

     A tecnologia também é aliada dos taxistas e passageiros de Belém que, a partir desse mês, passaram a contar com um aplicativo para celular e internet que facilita a utilização do serviço. O Easy Taxi é uma plataforma que estabelece contato direto entre o profissional e o cliente para minimizar o tempo de espera, pois identifica o veículo mais próximo do usuário em um raio de dois quilômetros. A empresa, lançada no ano passado, atende um milhão e meio de pessoas em 22 cidades, com mais de 40 mil táxis cadastrados em 11 países. A expansão deve continuar até a copa de 2014, com o objetivo de alcançar as cidades que sediarão os jogos. 
     O gerente nacional de operações da Easy Taxi, Fernando Pinheiro, explica o funcionamento do programa. “Uma vez feita a solicitação o passageiro recebe o nome e modelo do carro, além de poder rastrear a localização para evitar desencontros. Ele e o taxista tem acesso ao número do telefone um do outro, facilitando o contato”, detalha. Para ele, o diferencial é a ausência de intermediários e a rapidez no atendimento, com tempo médio de dez minutos para conseguir um táxi, bem menor do que o esperado nas cooperativas de táxi. Em Belém, uma seleção criteriosa será feita para cadastrar os taxistas. “Temos uma equipe de promotores que está visitando os pontos e apresentando o programa, além da divulgação via rádio e um ponto fixo, onde eles devem levar toda a documentação da habilitação e do veículo para ser aprovado”, informa. 
     Além dos documentos em dia, o taxista precisa ter um celular com sistema operacional Android. Para os passageiros, o Iphone também pode ser usado. As informações para o download do programa estão disponíveis no site oficial (www.easytaxi.com.br), que pode ser usado normalmente por quem não possui smartphone. Não há custos adicionais para quem pedir táxis por meio do aplicativo, porém o taxista terá que pagar uma taxa de R$ 2 a cada corrida conseguida por meio do serviço. 
A universitária Thalita Oliveira também costuma andar de táxi para se locomover rapidamente da faculdade para o estágio, mas reclama da demora. “Muitas vezes demora mais tempo para o carro chegar do que o trajeto em si, mesmo que eu entre em contato com a cooperativa mais próxima da minha casa”, queixa-se. Usar a tecnologia para driblar os problemas do tráfego cada vez mais complicado em Belém é uma boa saída, acredita ela, que espera que os investimentos na área aumentem e melhorem a configuração do trânsito na cidade. 

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Ações levam cidadania a Mosqueiro

*Publicado na página Responsabilidade Social, no jornal O LIBERAL de 04/07/2013

BRENDA PANTOJA
Da Redação


    A colaboração e a cidadania são a base para as atividades promovidas pela Organização Não Governamental (ONG) Viva Mosqueiro. Voluntários da entidade e moradores da Ilha se articulam para promover cursos educativos e de capacitação profissional, tornando o espaço referência no distrito em projetos que valorizam a comunidade e investem no potencial turístico da região. O caminho encontrado desde a fundação, há sete anos, foi trabalhar para fortalecer os aspectos sociais e culturais da população, com benefícios que também chegam por meio das parcerias com várias associações, órgãos do governo estadual e instituições.
         Em média, 1.500 pessoas são atendidas mensalmente pela ONG, que conta com um corpo de 120 voluntários permanentes. "A gente busca descentralizar as ações para alcançar o maior número de pessoas possível, já que Mosqueiro é muito grande", explica Daniel Teixeira, um dos coordenadores. A maioria das palestras e oficinas acontecem na sede, que abriga um centro profissionalizante, localizada no bairro da Vila, mas eles também trabalham com espaços cedidos em outros bairros e a cooperação entre os habitantes ajuda a ampliar a difusão de conhecimento. Além de inserir jovens no mercado de trabalho, os cursos aquecem o comércio na época do veraneio. 
         Uma das modalidades muito procuradas é a classe de Alimentação, promovida pela ONG e pelo programa ProJovem, do governo federal. Após as aulas teóricas e práticas, ministradas em seis meses, o aluno sai apto a trabalhar em restaurantes, lanchonetes e quiosques, um segmento bastante produtivo na Ilha principalmente no período das férias escolares. "Conseguir certificação na área é uma garantia de emprego, pois a qualificação faz toda a diferença aqui em Mosqueiro, já que no resto do ano o mercado é bem restrito", afirma a estudante Roseane Pinheiro, 19, que já participou de um curso de informática básica na Viva Mosqueiro. "O trabalho deles é uma ajuda para muitos jovens da Ilha, que encontram na ONG uma base para a formação profissional", avalia.
       Os jovens que procuram a entidade tem outras opções de capacitação, como cozinheiro, faxineiro, porteiro e caseiro, mas podem escolher ainda entre os cursos do ProJovem para  açougueiro ou construção e reparos. A professora Roseane Tabosa atua como voluntária e contabiliza pelo menos 100 alunos nas turmas de serviços domésticos. "São pessoas entre 18 e 29 anos, sempre muito focadas porque sentem a necessidade da profissionalização e entendem que não podem deixar essa chance passar", observa. A rotina de aulas chegou a ser alterada em função do crescimento do movimento na Ilha aos finais de semana, para que eles pudessem trabalhar sem perder o conteúdo das aulas. Para ela, é gratificante vê-los aplicando os conhecimentos e ocupando postos de trabalho graças a uma ação social, além de poder contribuir para mudar uma realidade. As vagas são sempre muito disputadas, pois o programa fornece uma bolsa mensal de R$ 100 para ajuda de custo com transporte e alimentação.
         "Em compensação monitoramos a frequência e a participação deles, que não podem faltar mais de três vezes e precisam participar das atividades relacionadas à formação para garantir um bom aproveitamento dos cursos. A procura é tão grande que se formam listas de espera de um semestre para o outro", conta Daniel. No ano passado, 1.200 alunos concluíram os cursos ofertados em 35 turmas na sede e nos bairros. Uma vez inscrito em alguma classe formada pela ONG, o participante é convidado a contribuir com dois quilos de alimento ou material de limpeza. Essas doações e a arrecadação feita entre os voluntários, que doam cerca de R$ 20 por mês, é a fonte de recursos da ONG. "É daí que sai também a ajuda de custo para alguns professores que moram longe e a verba para a manutenção do prédio", reforça Rosane Gama, que também integra a coordenação da Viva Mosqueiro.
          Ela atribui a solidariedade dos voluntários e moradores ao sentimento coletivo de necessidade presente na Ilha. “Há uma cultura colaborativa em Mosqueiro, porque aqui a vida não é fácil e temos muitas carências que dependem da administração de Belém para serem supridas”, lamenta. É por ver de perto as situações precárias que a população enfrenta em transporte, saúde e saneamento que a ONG utiliza as ações sociais para alicerçar uma proposta maior. “O nosso projeto, a longo prazo,  é criar as condições para a transformação do distrito de Mosqueiro em um município”, justifica Rosane. A própria sociedade já reconhece a ONG como um espaço de utilidade pública, garante a secretária da entidade, Luana Monteiro. “Temos o apoio de contadores, advogados, pedagogos, psicólogos e outros profissionais que orientam e atendem gratuitamente os moradores, mas a burocracia ainda é nosso principal obstáculo”, pontua.
          A cada evento cultural realizado a ONG arrecada mantimentos para a distribuição de cestas básicas. Em 2012 mais de 1.500 famílias receberam os alimentos, mas ainda não é o suficiente para a quantidade de pessoas que pedem auxílio, segundo ela. A instituição também é conhecida em Mosqueiro pelas programações tradicionais, como o Samba Ilha, no carnaval e o Forró Ilha, na quadra junina, que já mobilizaram mais de 70 grupos folclóricos e carnavalescos neste ano. “A ideia é valorizar e preservar a nossa cultura popular, fortalecendo a identidade dos habitantes”, explica Daniel. A Copa de Futsal reuniu 60 times na edição 2013 e foi ponto de coleta das cestas básicas e brinquedos que serão entregues no fim do ano, no projeto Natal Solidário, que pretende alcançar 3.000 pessoas.
         Estimular a consciência social também faz parte da pauta da ONG e a cada dois meses eles convocam uma assembleia de moradores para discutir os problemas da região. As soluções são apresentadas e debatidas também em outras ocasiões, como o Fórum do Idoso, o Encontro de Mulheres “Rosa Shock” e na rádio comunitária “Viva Mosqueiro”. Arnold Monteiro tem 24 anos e é produtor, músico, radialista e está concluindo o curso profissionalizante em Alimentação pela ONG. As várias habilidades o ajudam na hora de conseguir um emprego e ele decidiu usá-las para colaborar com a rádio comunitária, onde trabalha há um ano e meio. “É muito boa a iniciativa de ter um canal direto com a população, onde são divulgadas informações de interesse público, denúncias e serviços”, elogia.
         Para ele, atuar na área de comunicação através da Viva Mosqueiro trouxe grandes aprendizados. “Esse trabalho me ajudou a lidar melhor com o público, saber atuar em equipe e pensar no crescimento coletivo”, completa. Uma pessoa que participasse de todos os cursos fornecidos pela ONG, independente da área de interesse, reuniria conhecimentos sobre corte e costura, artesanato, musicalização, tapeçaria, crochê, informática, bordado, biscuit, customização, entre outros temas, além dos serviços domésticos e profissionalizantes.

LIVRO SOLIDÁRIO

         Dentre as parcerias da ONG está a Imprensa Oficial do Estado (IOE), que apoiou a implantação de um Espaço de Leitura em Mosqueiro, em dezembro do ano passado.  A ação fez parte do projeto Livro Solidário e Daniel estima que cerca de duas mil pessoas foram beneficiadas com a chegada da biblioteca. Cerca de 1.400 publicações foram doadas entre enciclopédias, dicionários, obras literárias e livros didáticos do ensino fundamental ao ensino médio. Daniel Teixeira calcula que, com a implantação do Espaço, cerca de 2 mil pessoas são beneficiadas direta e indiretamente. “São crianças, adolescentes, adultos e idosos que consultam os livros para complementar pesquisas escolares, para enriquecimento cultural ou para apoio didático até mesmo nos cursos que promovemos”, diz ele.
       Esses são os objetivos centrais do projeto, frisa a coordenadora do Livro Solidário, Carmem Palheta. “Através disso se fortalece a inclusão social, o acesso à informação e o exercício da cidadania”, reforça. Desde o começo do trabalho, 25 mil livros já foram arrecadados. Eles chegam por meio de doações da sociedade em geral e passam por processos de higienização, seleção e catalogação. Desse montante, 12 mil já foram encaminhados para os acervos de instituições, hospitais públicos e bibliotecas comunitárias. Ela calcula que aproximadamente 15 mil pessoas foram alcançadas pelo projeto nesse curto espaço de funcionamento.
      “O retorno positivo é o principal indício do êxito que o projeto tem alcançado”, acredita Carmem. Ela destaca o caso da Escola de Ensino Fundamental em Regime de Convênio Associação Cristã do Benguí, que atende 500 crianças e adolescentes entre 6 e 15 anos. A unidade recebeu um Espaço de Leitura e influenciou o planejamento pedagógico da escola, uma vez que o interesse dos alunos pela leitura e produção cultural cresceu visivelmente. Na Feira Pan-Amazônica do Livro deste ano, um grupo de 40 crianças da escola apresentou o espetáculo teatral “A Herdeira das Bruxas: Reciclar para Transformar”, com temática ambiental. A próxima atividade promovida pelo IOE será a Ação Leitura, na Praça do Carmo, na próxima sexta-feira pela manhã, como parte da Festividade de Nossa Senhora do Carmo.